quinta-feira, 17 de abril de 2014

A maior declaração

" [...] Amor não é uma fatalidade, é algo que inventamos, é a responsabilidade de definir, de assinar, de honrar a letra. Colocamos a culpa no destino para não assumirmos o controle, tampouco sustentarmos nossas experiências e explicarmos nossas falhas. Amar é oferecer nossas decisões para o outro decidir junto, é alcançar o nosso passado para o outro lembrar junto, mas jamais significa se anular. É vulnerabilidade consciente. É fraqueza avisada. É entregar nossa solidão ciente de que é irreversível, podendo nos ferir feio, podendo nos machucar fundo. Não existe nada mais horrível e mais lindo. Ninguém nos mandou estar ali, ninguém nos obrigou a nos aproximar daquela pessoa, ninguém nos determinou a começar uma relação. Não teve um chefão, um mafioso, um tirano, um ditador nos ordenando namorar. Foi você que optou. Assuma até o fim que é sua obra, inclusive o fim. Assuma que sua companhia é resultado direto do seu gosto, sendo canalha ou santa. Não adianta se iludir e tirar o pé. Não vale fingir e mentir freios. Amor não é hipnose, passe, incorporação. É você querendo o melhor ou pior para sua vida. É você roteirizando e dirigindo as cenas. Aquele que tem receio de se declarar não se deu conta de que é o próprio diretor do filme, e que a tela vai mostrar o sucesso e o fracasso de sua imaginação. [...] Amor não surge do além, amor se cria da insistência. A precipitação é uma farsa. Não há como me adiantar e me atrasar em sentimento que eu mesmo realizo. É bobagem negacear prazos, esperar amadurecer limites. Exponho minha paixão fácil, fácil. Nem precisa perguntar. Aprendo a amar amando, para entender que a maior declaração ainda não é o “eu te amo”. É quando alguém confessa: “Não consigo mais viver sem você”.
Mas isso não é amor, é coragem."

- Fabrício Carpinejar

quarta-feira, 16 de abril de 2014

As esquisitices do amor

"Eu estava quieta, só ouvindo. Éramos eu e mais duas amigas numa mesa de restaurante e uma delas se queixando, pela trigésima vez, do seu namoro caótico, dizendo que não sabia por que ainda estava com aquele sequelado etcetera, etcetera. Estava planejando terminar com o cara de novo, e a gente sabia o quanto essa mulher sofria longe dele. Eu estava me divertindo diante desse relato mil vezes já escutado: adoro histórias de amor meio dramáticas. Foi então que a terceira componente da mesa, que é psicanalista, disse a frase definitiva: “Eu, se fosse você, não terminava. Às vezes ficamos mais presas a um amor quando ele termina do que quando nos mantemos na relação”.
Tacada de mestre.
A partir daí, começamos a debater essa inquestionável verdade: em determinadas relações, ficamos muito mais sufocadas pela ausência do homem que amamos do que pela presença dele. Creio que vale para ambos os sexos, aliás. Um namoro ou casamento pode ser questionado dia e noite: será que tem futuro? Será que vou segurar a barra de conviver com alguém tão diferente de mim? Será que passaremos a vida assim, às turras? Óbvio que não há respostas para essas perguntas, elas são feitas pelo simples hábito de querer adivinhar o dia de amanhã, mas a verdade é que mesmo sem certificado de garantia, a relação prossegue, pois, além de dúvidas, existe amor e desejo. E isso ameniza tudo. Os dois estão unidos nesse céu e inferno. Até que um dia, durante uma discussão, um dos dois se altera e termina tudo. Alforria? Nem sempre. Aí é que pode começar a escravidão.
Nossa amiga queixosa, a da relação iôiô, perdia o rumo cada vez que terminava com o namorado. Aí mesmo é que não pensava em outra coisa. Só nele. Não conseguia se desvencilhar, mesmo quando tentava. Todas as suas atitudes ficavam atreladas a esse homem: queria vingar-se dele, ou fugir dele, ou atazana-lo – cada dia uma decisão, mas todas relacionadas a ele. Só quando reatavam (e sempre reatavam) é que ela descansava um pouco desse stress emocional e se reconciliava com ela mesma. Eu nunca havia analisado o assunto por esse ângulo. Sempre achei que a sensação de asfixia era derivada de uma união claustrofóbica e a sensação de liberdade só era conquistada com o retorno à solteirice. Mas o amor, de fato, possui artimanhas complexas.
Minha amiga finalmente terminou sua relação tumultuada e hoje está vivendo um casamento mais maduro e sereno. Aquele nosso papo foi há alguns anos, mas nunca mais esqueci dessa inversão de sentimentos que explica tanta angústia e tanta neura. Por que temos urgência de abandonar um amor pelo fato de ele não ser fácil? Quem garante que sem esse amor a vida não será infinitamente mais difícil? Às vezes é melhor uma rendição do que fugir de um amor que não foi vivido até o fim. Foi isso que nossa amiga psicanalista quis dizer durante o jantar: não antecipe o término do que ainda não acabou, espere a relação chegar até a rapa, e aí sim."

- Martha Medeiros

segunda-feira, 7 de abril de 2014

A pizza

Fernanda vivia num mundo diferente. Por vários caminhos que seguiu, encontrava novas amizades mas nunca uma que durasse muito. Finalmente encontrou uma que parecia ser uma boa amizade - nunca antes uma havia durado tanto quanto aquela. Mas com o tempo passando, Fernanda não conseguia ter um tempo divertido com sua mais nova amizade, como, por exemplo, dividir uma pizza. Gostava muito de comer, aliás, cereja era uma de suas preferências. Muitos dividiam pedaços de pizza com as novas amizades, mas Fernanda nunca conseguia comprar a tal da pizza. Um dia finalmente conseguiu, sua determinação a fez seguir o caminho e comprou, enfim, essa tentação. A sensação era que aquele pedaço era maravilhoso, o melhor do mundo. Saboreou cada pedaço, até que a pizza chegasse ao seu fim.
Mesmo que esta primeira pizza tenha sido conseguida, Fernanda, apaixonada pela deliciosa sensação, deseja comprar muito mais pizzas. Ganhar peso? Não é problema, o mais importante é o prazer de conseguir uma pizza.

domingo, 6 de abril de 2014

Capítulo 1

Ah o que dizer desses 12 meses? Talvez a palavra para esse primeiro capítulo seja "decisões". Cresci muito nesses meses, evoluí bastante: tanto fisicamente, quanto mentalmente. Consegui ficar mais em paz com meu corpo, consegui melhorar muito em fazer as coisas sem me preocupar com "o que os outros irão pensar?", aprendi a ser mais firme com o que penso. Passei por muitos testes, precisei encarar dias e dias seguidos de estudos, aguentar a rotina, comecei a poder fazer coisas só pelo fato de eu estar neste primeiro capítulo - e o que eu fizer a partir de agora definirá os próximos. Muito aconteceu neste período, diria que seu tamanho é grande, com várias escolhas e caminhos que poderia seguir, escolhi alguns certos, outros arriscados, outros errados, mas tudo isso é o que cria o caminho dos fatos que virão. Com certeza haverá muitas surpresas no segundo capítulo que começou. Basta viver para conhecê-las.